Castração: Uma Perspectiva Histórica
A sensação
que nos fica, enquanto mentes do século XXI, é que a castração é um eco de
mentalidades mais antigas, de tempos nos quais atitudes bárbaras reinavam no
quotidiano de então. Mas a verdade é que hoje em dia ainda é utilizada a
castração como método correctivo (castigo) ou então como resultado de doença
prolongada, no qual seja necessário o procedimento para a manutenção da vida.
Então como
e porque é que ainda chegou aos dias de hoje tal procedimento?
Como é que a
castração afecta a vida sexual dos homens?
Porque era feita?
Nas
próximas linhas vamos dar resposta a estas questões e tentar alargar a
perspectiva que faz parte da nossa herança cultural e que ainda hoje é um medo
sub-consciente que atormenta o homem.
Comecemos
pelo termo: Castração.
Define-se pelo acto de voluntária ou involuntariamente
se proceder à remoção dos testículos. Embora por vezes se pense que também
inclui a remoção do pénis, ou penectomia, a castração refere-se só à remoção testicular.
Em tempos antigos, especialmente na China, procedia-se à castração com
penectomia, no entanto esta envolvia maiores riscos uma vez que há maior perda
de sangue e consequente risco de infeção.
A castração tem como objectivo a
incapacitação total do individuo em obter descendência e, na maior parte das
vezes, vida sexual normal.
A
etimologia da palavra castração é algo incerta, mas o mais provável é esta
palavra vir do latim Castor, sendo um
substantivo comum aplicado ao animal castor, Castor fiber.
Tanto os
testículos de castor como o castoreum,
uma secreção oleosa e amarga com um cheiro ligeiramente fétido contida nos
folículos vaginais (fêmeas) ou prepuciais (machos) dos castores foram artigos
utilizados na medicina tradicional. Na medicina yupik (inuítes)
usavam-se testículos secos de castor para aliviar a dor. Os testículos de
castor eram exportados desde o Levante (uma região onde atualmente se encontram países
como Israel e Síria) para a Europa, entre os séculos X e XIX.
Os
castores europeus foram caçados levando-os à beira da extinção, em parte para a
obtenção do castoreum, que era usado
como analgésico, anti-inflamatório e antipirético. Os romanos atribuíam-lhe
propriedades abortivas à substância. Também se descreveu que o castoreum pode se usar contra a dismenorreia e
condições histéricas, já que eleva
a pressão sanguínea e incrementa o ritmo cardíaco. Os efeitos que produz o
castoreum foram atribuídos à
acumulação de salicilina que os
castores obtêm dos salgueiros que compõem sua dieta, substância que se transforma
em ácido salicílico e actua de forma muito similar à aspirina. Na natureza, os
castores utilizam o castoreum para
marcar seu território, ainda que também o podem usar para engordurar sua
pelagem a fim de se proteger dos ataques e agressões externas. O castoreum foi utilizado no fabrico
de perfumes; diz-se que foi Nostradamus quem descobriu que esta substância
atuava como fixador de cheiros, propriedade da qual este se aproveitou para
fazer os perfumes mais perduráveis.
Claudio Eliano, um autor
romano, descreveu que os castores mordiam os seus testículos, órgãos mais
valiosos, para que os caçadores não se interessassem em os matar. Foi a partir
de relatos como este que se deu início a fábulas de castores, que agiam assim
para se salvar da caça furtiva de então. Estas histórias ancoravam-se nestes
relatos para fazer interpretações metafóricas.
Na cultura
Romana a fábula do castor interpretada no sentido de que para que se possa
sobreviver ou preservar a nossa integridade física e moral, é melhor
sacrificarmos aspectos menos importantes.
Jesus
Cristo uma vez disse “Existem homens que se tornaram Eunucos pelo bem do Reino
dos Céus”. Isto foi interpretado por alguns padres cristãos que Jesus, para
além da abstinência, considerava importante a prática da castração.
Naturalmente, isto foi debatido, acreditando-se mais tarde, que possivelmente
Jesus tenha usado estas palavras num sentido metafórico. E uma vez aceite a
conceção metafórica das suas palavras a fábula do castor começou a ser usada
pela igreja como forma de evidenciar a renúncia Cristã.
No século
XII, o Bestiário1 de Aberdeen
intrepretou o comportamento do Castor da seguinte forma: “todo o Homem que siga
os mandamentos e desejos de Deus e deseje viver de forma casta, deverá
despegar-se de todos os seus vícios e actos vergonhosos”. No mesmo livro, é
mencionado que se um castor,já castrado, encontrasse outro caçador, pôr-se-ia
de pé, sobre duas patas, para mostrar que já não possui o que o caçador
procura, sendo assim poupada a sua vida.
Muitas
interpretações mais modernas foram feitas, mas mantendo sempre o sentido
metafórico de outrora, de auto-preservação através do sacrifício.
Freud e a ansiedade da
Castração
A história
de Édipo, que sem querer mata o pai e acaba por desposar a sua mãe, é muito
conhecida. Serviu também para definir uma das descobertas de Sigmund Freud
acerca do inconsciente humano: O
Complexo de Édipo.
Freud
entendia que o complexo de Édipo inicia-se quando a criança está na idade dos
3-5 anos. É definido por um período no qual o aparelho genital externo é o foco
principal da criança. Durante esta fase surge o super-ego, a consciência e o
início da interiorização da autoridade parental.
Após um
período de intensa ligação à mãe, esta é a altura na qual a figura paterna se
destaca mais. Para os rapazes dá-se uma ambivalência de sentimentos em relação
ao pai: rivalidade e ansiedade por um lado, admiração e proteção por outro. O
rapaz adoraria dar à sua mãe um bebé, mas receia o pai, pensando que este o
possa castigar pelos seus sentimentos sexuais relativos à mãe. Nesta fase dá-se
o medo da castração, que acompanha o rapaz para o resto da vida
(inconscientemente). O medo da castração é literal, no sentido tal que a
criança receia que o pai mutile o seu pénis.
Existe
também um aspecto mais simbólico da castração que se relaciona com o receio de
se tornar insignificante, impotente ou até mesmo uma sensação de se sentir
dominado. Pode também se relacionar com o aspecto literal da ansiedade da
castração considerando que os testículos e pénis são uma representação de
características psicológicas de virilidade, potência sexual, domínio e
capacidade de conquista.
Este medo da castração nos homens prende-se
também ao receio de perder tudo aquilo que o caracteriza enquanto homem quer
física quer psicologicamente.
China
A
castração ao longo da história esteve sempre muito ligada a actos religiosos,
formas de tortura e a formas de estruturação política. Podemos ver muitos
registos de eunucos no Antigo Egipto, na Roma Antiga, na India, no império
Otomano. Mas nenhuma cultura ou Império utilizava tanto os eunucos enquanto
trabalhadores imperiais como na China.
Um antigo
termo chinês para eunuco era Huan Kuan:
homem castrado que era empregado no palácio. Estes eram muito desejados pelo
Imperador especialmente para proteger e cuidar das suas concubinas. O que era
compreensível para garantir que a descendência garantida pelas mulheres do
Imperador fosse exclusivamente sua. Os eunucos que trabalhavam para servir o
Imperador assim o faziam de livre vontade, inclusive a sua própria castração!
A
castração na China era praticada pelos seguintes motivos:
- Como castigo – Traição ou desrespeito ao Imperador poderiam resultar numa
- Castração ou em sentença de morte;
- Por ser prisioneiro de guerra – Como forma de humilhação;
- Por escolha dos próprios pais – Regularmente os pais de crianças na China mandavam castrar os seus próprios filhos de forma a garantir-lhes um trabalho no palácio do Imperador ou com algum nobre;
- Voluntário – Como escolha da via profissional de eunuco.
Voluntariamente? Sim.
Não será difícil de imaginar se percebermos o contexto
social da China Antiga. Era muito complicado sobreviver sem se trabalhar para
um nobre ou o próprio Imperador, uma vez que as guerras eram constantes ou no
mínimo recorrentes, o povo passava muita fome e os médicos viviam em cidades
maiores, poiso de nobres.
Uma forma de garantir trabalho e subsistência seria
de trabalhar como eunuco. E era uma profissão de grande respeito a partir de
certa parte da história da China, pois eram pessoas de elevada posição social,
muito influentes e poderosas. Com poder vinha também dinheiro e posição
política.
Com tantos chineses a desejarem voluntariamente ser castrados, resultou
na criação de uma nova profissão: a de Castrador.
A castração na China procedia-se com penectomia, ou seja, toda a
componente genital externa era removida. Como visto anteriormente, isto envolvia
grandes riscos, pelo que, o Castrador era necessário para garantir que o
procedimento não resultasse em morte. A verdade é que apesar do risco a taxa de
sucesso era incrivelmente alta!
Os gabinetes Imperiais para a castração localizavam-se fora das portas
do palácio e o preço para tal procedimento era elevadíssimo. O proponente à
castração deitava-se de decúbito dorsal sobre uma superfície aquecida e o pénis
e os testículos eram lavados três vezes. A pessoa era amarrada e segura por um
assistente nas pernas. Nessa altura o Castrador olhava nos olhos do homem e
perguntava: “Irá arrepender-se ou não?”. Se o homem mostrasse a menor hesitação
o procedimento seria cancelado. Se assim não fosse o Castrador com um golpe
rápido cortava o pénis e o escroto. Seria colocado de seguida uma compressa de
água fria e o homem era acompanhado pelo Castrador nas 3 horas seguintes.
O paciente ia para casa descansar e não podia beber água nos 3 dias
seguintes. Depois desse tempo a compressa era retirada e se urina jorrasse,
significaria que a operação teria sido um sucesso. Se jorrasse sangue o
prognóstico seria uma morte lenta e agonizante.
Era comum, após a castração, muitos homens tornarem-se incontinentes,
dando origem a um cheiro característico a urina associado aos eunucos. Daí o
ditado Chinês: “Cheirar como um eunuco”.
O Castrador guardava o pénis e os testículos pois muitos eunucos queriam
ser enterrados “inteiros”.
Uma vez que os Eunucos eram os únicos a entrar nos aposentos privados do
Imperador, estes estabeleciam uma forte relação de confiança, sendo que alguns
eunucos criavam os Imperadores desde a infância. Isto permitiu a muitos
eunucos, durante a dinastia Qing, que fossem muito corruptos e influenciassem o
Imperador.
Eunucos atingiram o pico do seu poder na dinastia Ming, numa altura em
que dominavam todos os postos administrativos. Estes não só promulgavam as
leis, como também escolhiam as concubinas e até mesmo a mulher do Imperador.
Com tanto poder e influência a riqueza abonava entre os eunucos.
O último eunuco chinês chamava-se Sun Yaoting e foi castrado a
1912,morrendo a 1996.
India
Na antiga
tradição Hindu os pacientes com cancro da próstata metastizado eram tratados segundo
o mesmo princípio dos pacientes de hoje em dia. Actualmente são administradas
injeções e medicamentos muito caros, enquanto na altura era usada uma simples
dieta vegetariana. Era baixa em colesterol, no fundo a matéria-prima da
testosterona, o que resultava num decréscimo abrupto da mesma.
Estima-se
que hoje em dia existam na Índia mais de um milhão de eunucos. Muitos foram
castrados antes de atingirem a puberdade, mas na maior parte dos casos eram
crianças com algum tipo de ambiguidade relativa aos órgãos sexuais externos, ou
casos de homens cujos testículos não tenham descido até ao escroto.
Por alguma
conveniência transsexuais e travestis também são agrupados aos eunucos. Estes por
vezes são marginalizados e a maior parte vive de esmolas ou até mesmo da
prostituição.
Em 2006 o governo Indiano deliberadamente empregou alguns eunucos
para cantarem em frente às casas de suspeitos de fuga fiscal, com o fito de os
embaraçarem e os obrigar a pagar o devido ao fisco. De acordo com a imprensa
Indiana a campanha foi um sucesso na cidade de Patna, onde estes eunucos
conseguiram recolher cerca de 7000 €.
Muito
embora haja leis a proibir a castração desde 1887, esta continua a ser
praticada na Índia, Bangladesh e Paquistão. A maioria dos eunucos vive
comunitariamente como hijra (terceiro
género), partilhando esta definição com transsexuais ou travestis.
Entre os
indianos da cidade de Varanasi, ao norte da Índia, há rituais de castração onde os homens castrados se vestem de mulher e são aceites e
explicados culturalmente. Muitos homens são castrados por sacerdotisas para lhes
servirem de escravos, ou para terem relações sexuais, uma vez que estas devem
permanecer virgens toda vida. Nesses rituais de castração, as sacerdotisas usam
uma adaga para
remover o pénis e os testículos, com o devido cuidado para mantê-los vivos.
Depois de castrados, esses eunucos são vestidos de mulher e marcados para servir
fielmente àquela que os castrou.
Alguns hijras
são castrados ainda criança enquanto outras a pedido de mães que tiveram suas
filhas assediadas por homens de castas inferiores.
Na Índia, considera-se
que a castração, tanto masculina como feminina, deve ser praticada por mulheres
especializadas e treinadas para tal. Algumas mulheres são treinadas nas artes
da sedução para poderem se aproximar dos homens ou das mulheres que devem
castrar.
A traição também pode resultar na castração da parte infiel, as vezes
a mulher traída poderá castrar totalmente ou parcialmente seu namorado ou
marido traidor. Os homens castrados podem se juntar às hijras ou ficar com suas famílias.
As hijras podem ser consideradas tanto como
indivíduos pertencentes a uma casta, quanto a um culto. Possuem uma deusa
própria, Bahuchara Mata. Pela medicina ocidental, podem ser consideradas
transexuais masculinos.
Ocidentais
que lidam com as hjiras, por
quaisquer que sejam as razões, frequentemente tendem a relacioná-las com a
cultura hindu ou
com o hinduísmo. Isso não é
estranho, já que no Ocidente o hinduísmo
tende a ser identificado com "tolerância, paciência e não-violência",
enquanto o islamismo com
"terrorismo, fanatismo, opressão". Por isso relacionam
automaticamente a questão da diversidade de gênero ao hinduísmo e não ao
islamismo. Contudo, a comunidade hijra
está tão enraizada no islamismo indo-paquistanês como no hinduísmo em si.
Muitas delas, senão a maioria, são muçulmanas – não só no Paquistão e em
Bangladesh, mas na secular Índia hindu –, e sua conexão com as dinastias islâmicas
que governaram a Índia é motivo de orgulho, inclusive para as hijras que professam o hinduísmo.
A Igreja Católica
Apesar da
Igreja de Roma ter uma visão muito púdica em relação a tudo o que concerne o
aparelho genital masculino, uma prática sobreviveu até 1913. Até essa data todo
o cardeal que fosse nomeado Papa, era apalpado nos genitais de forma a ter
absoluta certeza de que se tratava de um homem. Ao fim de contas houve um
momento da história no qual uma Papisa foi eleita, a Papisa Joana. Tal momento
da história da Igreja despoletou esta tradição. Após um dos cardeais se
certificar da masculinidade do candidato, de
visu et tacto, este dizia “Testiculos habet et bene pendentes” (Ele tem
testículos e estes penduram-se bem). Todos os cardeais entam diziam: “Habet ova
noster papa!” (O nosso papa tem “ovos”!).
O Padre
São Agostinho de Hipona (354-430) disse que as relações sexuais deverão ser
praticadas unicamente com o propósito da reprodução. E na altura isso só era
possível com um pénis erecto e com testículos. Bem, homens que sofriam de
impotência eram incapazes de tal e por isso mesmo estavam a violar o sacramento
do casamento – era tão simples quanto isso. A partir do século XIII em diante,
seguindo S. Agostinho, a lei eclesiástica considerou que praticamente seria pecado
mortal se homens com impotência ou inférteis se tivessem casado. O mesmo seria
considerado dos eunucos, hermafroditas e de homens cujos testículos não
tivessem descido ao escroto.
Estes
casos seriam alvos de julgamento, sendo que os acusados deveriam provar de que possuíam um aparelho sexual
normal e funcional. O júri seria composto por médicos, parteiras e teólogos que
deveriam avaliar a capacidade do arguido. Era normal também que o júri
observasse o arguido enquanto dormia para se assegurarem de que este tinha
ereções nocturnas.
No início
havia um certo grau de discrição no que tocava à existência destes julgamentos.
Mas a partir do século XVI as autoridades da Igreja chegavam mesmo a praticar voyeurismo. Não só era requisitada uma
prova de ereção, mas também era avaliada a elasticidade do pénis, “movimento
natural” e a capacidade de ejaculação. Não sendo isto suficiente, pedia-se para
os cônjuges terem sexo diante do júri. O tratamento dos eunucos e hermafroditas
por parte da igreja revelava que esta mantinha um tabu no que tocava ao prazer
sexual.
Embora os eunucos não pudessem ejacular, alguns conseguiam manter uma
ereção satisfatória e por isso mesmo as respectivas esposas não se revelavam
insatisfeitas. Mas após 1587, independentemente dos desejos dos cônjuges, o
Papa Sisto V decidiu anular todos os casamentos de eunucos e hermafroditas. Para
o Papa era inconcebível a ideia de que estes homens partilhassem a cama com uma
mulher, preferindo que estes vivessem de forma casta. Considerava uma ofensa
ainda maior caso a mulher soubesse do “defeito” do esposo e nada dissesse.
Sisto V partilhava das perspetivas de S. Agostinho e de Tomás de Aquino de que
a procriação era o grande propósito do casamento.
Os Eunucos do século XXI
Nos EUA
(Estados Unidos da América) estima-se que cerca de 40 000 homens são
quimicamente castrados por ano como tratamento para o cancro da próstata
(quando mestastizado). Na maior parte dos casos o crescimento deste tipo de
cancro é testosterona-dependente, pelo menos na fase inicial. Na Holanda 7 000
novos pacientes são diagnosticados com cancro da próstata anualmente.
Até aos
anos 80 a castração era realizada cirurgicamente. Hoje em dia o procedimento é
realizado quimicamente, normalmente através da administração de injeções de
ação retardada.
A droga utilizada consiste em Gonadorelina2.
Os
efeitos secundários mais comuns são aumento de peso, fadiga, trombose, hipertensão, leve depressão, hipoglicémia e mudanças em
enzimas hepáticas. Pode aumentar a pressão arterial, por vezes a níveis perigosos, além de poder causar ginecomastia3.
O tratamento hormonal de um cancro da próstata metastizado
é eficaz entre 70 a 80% dos casos.
Mesmo
recorrendo à castração química, a influência da testosterona é reduzida a
praticamente zero, tornando o Homem, de facto, num eunuco.
A
castração química, actualmente, tem sido aplicada por vários países, a pessoas
condenadas por crimes sexuais. Existem muitas discussões sobre a viabilidade
desse tipo de pena – ou tratamento – levando-se em consideração a questionada
eficácia desse método em reabilitar o condenado, garantindo a proteção dos
interesses coletivos.
Faz parte
também do debate a imperatividade dos princípios constitucionais, como os que
vedam as penas cruéis e degradantes e os que protegem a dignidade do ser
humano.
A American
Civil Liberties Union demonstrou-se contrária à administração de
qualquer droga, incluindo fármacos para criminosos sexuais. Alegaram, em 1997, que obrigar a química foi uma
"punição cruel e incomum", e, assim, constitucionalmente proibida pela Oitava Emenda à Constituição Estados Unidos4.
Grandes
doses são necessárias para a eficácia em homens. A maioria dos homens recebe de
400mg a 500mg por semana. Em alguns casos, os homens recebem doses orais
altas, como 700 mg/dia, e ainda têm excitação e fantasias sexuais.
No ano de 2008,em Portugal, foram condenados mais de mil arguidos que
violaram e abusaram de menores. Dinamarca, Suécia, Alemanha e Reino Unido já
aplicam castração química voluntária aos agressores de crimes sexuais,
mas a maioria dos partidos com assento parlamentar rejeita a ideia.
Curar os
agressores sexuais através de um tratamento que reduza o ímpeto sexual é um
conceito que começou a ser posto em prática nos EUA. Na década de 80 o tratamento
agora pensado para a castração estava longe de integrar o sistema jurídico, servia
unicamente para reduzir o excesso de vontade sexual.
Em vários
países da Europa, a castração química é já vista como um tratamento a aplicar a
condenados por crimes de índole sexual, contra menores e adultos, mas em Portugal
está longe de ser uma medida unânime.
1 Bestiário - Os bestiários são textos descritivos de todo tipo de seres,
reais ou fabulosos, acompanhados de comentários morais. Não eram livros
científicos, mas alegóricos, às vezes claramente humorísticos e fantasiosos, e
muito da sua informação carece de base factual. O género estabeleceu-se em
Inglaterra no século XII a partir da
compilação de várias fontes antigas, das quais uma das mais importantes é o Fisiólogo. O propósito de
sua elaboração era estimular a imaginação com paralelos entre o mundo real e o surreal,
dando ilustrações para que a mente pudesse compreender certas alusões mais complexas.
Gonadorelina2
- A Gonadorelina é responsável pela libertação da
hormona folículo estimulante (FSH) e luteinizante (LH) hormônio da pituitária
anterior. Na GnRH pituitária estimula a síntese e libertação de FSH e LH, um
processo que é controlado pela frequência e amplitude dos impulsos de GnRH, bem
como o retorno de androgénios e estrogénios. A pulsatibilidade da secreção
de GnRH tem sido observada em todos os vertebrados, e é necessária para
garantir um correto funcionamento reprodutivo. Assim, um única hormonio,
GnRH, controla um complexo processo de crescimento folicular, ovulação, e a
manutenção do corpus lúteo na mulher, e espermatogénese no homem.
Ginecomastia3
- Neoplasia benigna ou maligna que leva ao crescimento das mamas nos homens.
Oitava Emenda à Constituição Estados Unidos4 - Não poderão ser exigidas fianças exageradas, nem impostas
multas excessivas ou penas cruéis ou incomuns.
Bibliografia
·
DRIEL, M.
van – Manhood: the rise and fall of the
penis; 2008; Reaktion Books Ltd; (pp. 96-116)
Webgrafia: