Parto na água
Parto na água, o que é?
Nos últimos anos tem-se falado cada vez
mais do Parto na Água, como componente facilitadora do parto natural, levando a
uma maior procura desta técnica pelas futuras mamãs.
O conforto do contacto com a água, a
vontade de um parto natural sem dor ou a idealização de um nascimento em meio
aquático são factores que apelam à gestante e impulsionam a vontade de ter um
Parto na Água.
Mas o que é, e para que serve o ‘Parto
na Água’?
A fisiologia do Parto
Primeiro período
do parto - período de dilatação
Inicia-se com contrações do útero regulares (2 ou 3 em cada 10 minutos
com duração aproximada de 40 segundos cada).
Nesta fase, as contracções dilatam o colo úterino até que este atinja os 10
centímetros.
Segunda fase do
parto - período expulsivo
Inicia-se com o cérvix completamente dilatado e
termina com a expulsão do bebé.
Terceira fase -
terceiro período, secundamento ou dequitadura
Ocorre 5 a 30 minutos após terminar o período
expulsivo e é nesta fase que se dá o desprendimento, descida e expulsão da
placenta.
A continuação das contracções uterinas diminui o
volume do útero forçando o desprendimento e expulsão da placenta.
Quarta fase -
período de Greenberg
Primeira hora após saída da
placenta.
Fase em que se dão os processos
que impedem sangramento pós-parto (tamponamento dos vasos sanguíneos que irrigavam
a placenta).
Hormonas no parto – Ocitocina vs Adrenalina
A libertação da principal hormona
actuante no parto, ocitocina, é inibida quando há libertação de adrenalina.
Assim sendo, para que o parto seja um processo fluido, menos doloroso e cansativo
para a mulher e sem sofrimento para o bebé, devem minorar-se todos os factores
que promovem a libertação de adrenalina: a mãe deve sentir-se segura, não
observada e suficientemente quente.
“Todos os mamíferos dão à luz
graças à súbita libertação de um fluxo de hormonas.
Uma destas hormonas - oxitocina -
desempenha um papel essencial. É necessária à contracção do útero para o
nascimento de bebés e para a expulsão da placenta. (...)
Todos os mamíferos podem também
libertar uma hormona de emergência - adrenalina - cujo efeito é impedir a libertação
de ocitocina.
Esta hormona de emergência é
libertada, em especial, quando há possibilidade de perigo.
O facto de que a adrenalina e
ocitocina são antagónicos explica que a necessidade básica de todos os mamíferos
que dão à luz é sentir-se seguro.
Num ambiente selvagem, uma fêmea
não consegue dar à luz caso haja perigo como a presença de um predador. Neste
caso, libertar adrenalina seria uma vantagem ao trazer mais sangue para os
músculos (de movimento) e dar mais energia para lutar ou fugir; é também uma
vantagem porque pára a libertação de ocitocina e adia o processo do nascimento.
(...)
Os mamíferos libertam adrenalina
quando se sentem observados. É notório que todos eles dependem de uma
estratégia específica para não sentir observados ao dar à luz: a privacidade é
obviamente outra necessidade básica.
A hormona de emergência também
está envolvida na regulação térmica. Num ambiente frio, um dos papéis bem
conhecidos da adrenalina é induzir o processo de vasoconstrição. (...)
Como os humanos são mamíferos,
estas considerações fisiológicas sugerem que, a fim de dar às luz, as mulheres
devem sentir-se seguras, não observadas e num lugar suficientemente quente.”
1Michel Odent – Obstetra
Michel Odent é um Obstetra francês
a cargo dos departamentos de Cirurgia e
Maternidade do Hospital de Pithiviers de 1962 a 1985 com especial
interesse em factores ambientais que influenciam o processo do parto.
Introduziu conceitos como quartos de parto, piscinas de parto e sessões de
canto para mulheres grávidas.
Uso de água no Parto
Durante o primeiro período do parto
(período de dilatação) há por vezes e por diversos factores, um aumento dos
níveis de adrenalina.
Como consequência, as contracções
começam a ser menos eficazes e o trabalho de parto começa a tornar-se longo e
desgastante.
Em 1977 o obstetra francês Michel Odent
introduziu a técnica de imersão em água à temperatura do corpo durante 1h ou
1h30, já que esta é uma forma eficaz de relaxar a mãe e baixar os níveis de
adrenalina e de dor, tornando mais rápido o período de dilatação.
Após esse tempo a mãe deveria então
sair da piscina - já que as contracções se tornavam menos eficazes.
“Observámos que a imersão numa piscina
cheia de água quente era uma forma eficaz de facilitar a fase de dilatação do
cérvix. Desde que a parturiente não entrasse no banho até ao início das
contracções mais fortes a meio desta fase, verificámos que, uma vez imersa, ela
completaria a dilatação bastante rapidamente – em talvez uma hora ou uma hora e
meia para uma primeira gravidez. Apesar de as contracções serem aparentemente
menos intensas e menos dolorosas na água, a mãe consegue sentir que são, ainda
assim, mais eficazes.
Os efeitos positivos da imersão
em água à temperatura do corpo não nos surpreendem, na verdade, esta é uma
forma óbvia de reduzir dramaticamente o nível de adrenalina.”
2Michel Odent, Birth and breastfeeding
No entanto algumas mulheres decidiam
ficar na piscina (ou a progressão do parto era tão rápida que elas não chegavam
a ter tempo de sair da piscina) e alguns bebés nasciam dentro de água,
tornando-se num fenómeno mediatizado, divulgando o nascimento na água mais do
que o uso da água no parto.
Segurança
no Parto na Água
Não há consenso entre os profissionais quanto
ao uso desta técnica.
Se alguns estudos mostram números
animadores como diminuição considerável da duração do período de dilatação, redução
evidente da taxa de episiotomias e laceração perineal e uma quase eliminação do
uso de analgésicos3, outros estudos indicam ligeiros aumentos da
taxa de mortalidade, problemas respiratórios e risco de infecções e asfixia do
bebé no parto na água4.
Parto
na água em Portugal
Algumas instituições privadas começam a
ter a possibilidade do uso da piscina de parto mas, dos hospitais públicos,
apenas um tem este serviço.
O Hospital de São Bernardo em Setúbal
iniciou em 2010 o projecto de partos na água (imersões).
No início de 2014 já tinham realizado
mais de 300 entrevistas a futuras mães. Dessas entrevistas resultaram as 71
imersões que o hospital já realizou: 31 partos na água e 30 imersões apenas
durante o trabalho de parto. 10 destes casos resultaram em parto
instrumentalizado ou cesariana.
O hospital aceita parturientes de todo
o país ou mesmo do estrangeiro para uma entrevista com o médico e a enfermeira-especialista,
em que se apura se a parturiente se encaixa nos critérios do projecto.5
O parto deve resultar da escolha dos futuros pais, de acordo com as suas vontades
e aspirações assim como deve ter em conta os princípios de segurança para mãe e
bebé, mas acima de tudo deve corresponder a uma escolha informada, consciente e
fundamentada.
Artigo elaborado por Joana Prata
Referências:
1 - Michel Odent: http://www.wombecology.com/?pg=physiological
2 - Odent, Michel,
”Birth and breastfeeding, Rediscovering the Needs of Women During Pregnancy and Childbirth”
3 - Zanetti-Daellenbach, Rosanna A., “Maternal and
neonatal infections and obstetrical outcome in water birth”, European Journal of Obstetrics
and Gynecology and Reproductive Biology, September 2007
4 – Pinette,
Michael G., Wax, Joseph, Wilson, Elizabeth, “The risks of underwater birth”, Division of Maternal-Fetal
Medicine, Department of Obstetrics and Gynecology, Maine Medical Center,
Portland, Me
5 – Varela,
Vitor, “O parto normal em Portugal: a experiência de “parto na água” no
Hospital de São Bernardo, Setúbal”