Cancro do Colo do Útero
Ler em Português
Read in English
O cancro do colo do útero tem uma elevada incidência, a nível mundial, sendo um dos principais a acometer as mulheres, onde há um comprometimento das células epiteliais do colo do útero - porção inferior mais estreita do útero, que liga o útero à vagina.
De acordo com os números de 2012 da GLOBOSCAN publicados pela Agência Internacional para Pesquisa do Cancro (International Agency for Research into Cancer - IARC) para a Organização Mundial de Saúde (OMS 2012), o carcinoma do colo uterino foi o terceiro tipo de cancro mais comum registado em mulheres, a nível mundial e o quarto em termos de mortes por cancro. Segundo a OMS aproximadamente 70% de todos os casos são encontrados em países com rendimentos baixos a moderados (Eurocytology).
Em Portugal, o cancro cervical é a segunda maior causa de cancro em mulheres entre os 15 e os 44 anos de idade (HPV Information Centre).
O cancro do colo do útero resulta de uma infeção provocada pelo vírus do papiloma humano (HPV), que se transmite por via sexual (Ramirez & Gershenson, n.d.a). Este vírus está na base não só do cancro cervical, mas também do cancro da vulva, vagina, ânus, pénis, cabeça e garganta.
HPV é uma grande família de vírus com mais de 100 tipos, na maioria dos casos, o sistema imunitário tem capacidade de debelar a infeção através de apoptose das células infetadas e de reparar qualquer tecido danificado através da regeneração de tecido pavimentoso.
Por sua vez, os HPV de alto risco (16 e 18 são os principais) têm uma maior probabilidade de persistência.
De acordo com os números de 2012 da GLOBOSCAN publicados pela Agência Internacional para Pesquisa do Cancro (International Agency for Research into Cancer - IARC) para a Organização Mundial de Saúde (OMS 2012), o carcinoma do colo uterino foi o terceiro tipo de cancro mais comum registado em mulheres, a nível mundial e o quarto em termos de mortes por cancro. Segundo a OMS aproximadamente 70% de todos os casos são encontrados em países com rendimentos baixos a moderados (Eurocytology).
Em Portugal, o cancro cervical é a segunda maior causa de cancro em mulheres entre os 15 e os 44 anos de idade (HPV Information Centre).
O cancro do colo do útero resulta de uma infeção provocada pelo vírus do papiloma humano (HPV), que se transmite por via sexual (Ramirez & Gershenson, n.d.a). Este vírus está na base não só do cancro cervical, mas também do cancro da vulva, vagina, ânus, pénis, cabeça e garganta.
HPV é uma grande família de vírus com mais de 100 tipos, na maioria dos casos, o sistema imunitário tem capacidade de debelar a infeção através de apoptose das células infetadas e de reparar qualquer tecido danificado através da regeneração de tecido pavimentoso.
Por sua vez, os HPV de alto risco (16 e 18 são os principais) têm uma maior probabilidade de persistência.
A infeção por esta família de vírus não é a única causa de cancro cervical visto que os seus efeitos devem ser considerados no contexto de fatores de risco que predispõem à persistência e oncogenicidade (capacidade de causar uma neoplasia) (Eurocytology, n.d.).
O risco de desenvolver este cancro é aumentado se se verificarem as seguintes condições (Ramirez & Gershenson, n.d.a; Liga Portuguesa contra o Cancro, n.d.; I.C.O., n.d.; Eurocytology, n.d.):
- Não ter feito qualquer teste de rastreio
- Ter relações sexuais pela primeira vez em idade jovem
- Ter mais do que um parceiro sexual
- Ter relações sexuais com homens cujas parceiras anteriores tiveram cancro do colo do útero
- Ter muitos filhos
- Idade – o risco aumenta a partir dos 40 anos
- Tabagismo
- Ter um sistema imunitário enfraquecido (decorrente de uma doença, SIDA ou certos medicamentos)
- Tomar a pílula durante longos períodos de tempo – em mulheres com HPV, tomar a pílula durante 5 anos ou mais pode aumentar o risco de desenvolver cancro do colo do útero
- Uso prolongado de D.I.U
- Infeção por Chlamydia
- Má alimentação
- Obesidade
- Pobreza
- Historial familiar
É importante salientar que a predisposição para estes fatores de risco e do HPV de alto risco indicam uma maior suscetibilidade e não uma garantia de desenvolvimento de cancro do colo do útero (Eurocytology, n.d.).
Segundo a Liga Portuguesa contra o Cancro (n.d.), numa fase inicial de cancro do colo do útero não se manifestam sintomas. Porém quando o cancro evolui, a mulher pode apresentar um ou mais dos seguintes sintomas:
- Hemorragia vaginal anormal – como por exemplo hemorragia entre períodos menstruais regulares, hemorragia após relação sexual ou pós-menopausa
- Aumento do corrimento vaginal
- Dor pélvica
- Dor durante as relações sexuais.
Tratamentos de Medicina Ocidental
Segundo o I.C.O. (n.d.), tendo em conta o estadiamento do cancro do colo do útero, o tratamento pode incluir a cirurgia, radioterapia e/ou quimioterapia:
Estádio 0: a opção de tratamento passa pela cirurgia, nomeadamente a conização do colo do útero, que consiste na remoção por laser ou por bisturi da lesão identificada. Outras técnicas como a cirurgia de alta frequência (LEEP) e a criocirurgia podem ser utilizadas;
Estádio IA: a opção de tratamento passa pela realização de uma histerectomia total abdominal com salpingooforectomia bilateral (SOB), que consiste numa cirurgia abdominal em que é removido o útero, as trompas e os ovários. Pode ser ainda removida parte da vagina. Nesta cirurgia devem ser retirados também amostras aos gânglios linfáticos pélvicos; no caso de a mulher querer ter filhos, deverá discutir com o seu médico a possibilidade de efetuar um procedimento parcial, de forma a preservar o órgão;
Estádio IB e IIA: a opção de tratamento passa pela combinação de cirurgia – histerectomia total abdominal – radioterapia e quimioterapia, avaliada caso a caso;
Estádio IIB e III: nestes estadios, a opção terapêutica habitual será o tratamento por radioterapia e quimioterapia;
Estádio IV: a opção terapêutica passa pela quimioterapia e, caso a caso poderá decidir-se pela radioterapia.
Existem dois tipos de tratamento de radioterapia para o cancro do colo do útero:
- Radiação externa: a radiação é administrada através de um aparelho de grande dimensão e que incide o feixe de radiação para a área a tratar com alta precisão. Na maioria dos casos, a mulher efetua 5 sessões por semana, durante 5 a 7 semanas, sem necessitar de internamento;
- Radioterapia intracavitária: a radiação é administrada através da colocação na vagina de implantes com uma substância radioativa; o tratamento pode durar apenas algumas horas ou até 3 dias, findo o qual os implantes são retirados; este tipo de tratamento implica o internamento hospitalar da mulher e medidas de proteção por forma a evitar a exposição indevida de outras pessoas à radiação. Pode ser necessário repetir o tratamento, podendo ser realizado duas ou mais vezes, durante algumas semanas.
Relativamente à quimioterapia, a cisplatina é atualmente a droga padrão mais utilizada, podendo ser combinada com topotecano (Ramirez & Gershenson, n.d.b).
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa
Segundo Lahans (2007), em termos da Medicina Tradicional Chinesa, o vírus HPV é considerado Humidade-Mucosidade patogénica que ocorre mediante a exposição a uma doença sexualmente transmissível.
Mulheres com Deficiência de Qi ou Yin, Humidade ou Estagnação de Qi do Fígado são mais suscetíveis a terem fatores patogénicos latentes. Se o HPV não for tratado pode evoluir de uma condição de Humidade-Mucosidade para Estase de Sangue e, posteriormente para Calor Tóxico no Sangue.
Por outro lado, de acordo com Peiwen (2003), o cancro do colo do útero tem origem na Deficiência de Yin do Fígado e do Rim e Humidade exuberante devido a Deficiência do Baço-Pâncreas.
A Deficiência de Yin do Fígado e do Rim resulta no movimento frenético do Calor-Vazio, o que causa sangramento fora do período menstrual.
A dieta irregular conduz a Deficiência do Baço-Pâncreas, resultando em Humidade que quando retida transforma-se em Calor. Se o calor estiver retido durante um longo período de tempo produz toxina, resultando em cancro cervical.
Já, de acordo com Maciocia (1998), a etiologia do cancro do colo do útero reside no início precoce de uma vida sexual ativa regular que lesa o Ren Mai e Chong Mai.
Problemas emocionais na altura da puberdade podem causar Estagnação de Qi do Fígado que facilmente afeta o sistema reprodutor feminino, podendo evoluir para Estase de Sangue e provocar massas.
Assim, esta patologia é, em primeiro lugar, caracterizada por uma Deficiência do Qi vertical e fraqueza do Ren Mai e Chong Mai e, adicionalmente pode existir Estagnação de Qi e Sangue ou Humidade-Calor.
Diferenciação de Síndromes
As síndromes associadas ao cancro do colo do útero variam de autor para autor, sendo marcada por semelhanças e diferenças entre autores.
Lahans (2007) relaciona o cancro cervical com as seguintes síndromes:
- Acumulação de Humidade-Calor
- Acumulação tóxica no Jiao Inferior devido a Humidade-Calor no meridiano do Fígado
- Deficiência de Yang do Baço-Pâncreas e de Yin do Rim devido a Humidade Tóxica residual
- Deficiência de Yin do Fígado e do Rim
- Deficiência de Yang do Baço-Pâncreas e do Rim
Por outro lado, Peiwen (2003), à semelhança da autora anterior faz referência às síndromes de acumulação tóxica no Jiao inferior devido a Humidade-Calor no meridiano do Fígado e Deficiência de Yang do Baço-Pâncreas e de Yin do Rim devido a Humidade Tóxica residual e acrescenta as seguintes:
- Desarmonia do Chong Mai e Ren Mai devido a Estagnação de Qi do Fígado
- Humidade tóxica descendente devido a Deficiência do Baço-Pâncreas
Maciocia (1998) menciona apenas as síndromes que poderão estar associadas a estádios iniciais do cancro cervical, sendo estas:
- Deficiência de Qi
- Deficiência de Sangue
- Deficiência de Yang do Rim
- Deficiência de Yin do Rim
- Estagnação de Qi do Fígado
- Humidade-Calor no Jiao Inferior
Dietética
De acordo com Peiwen (2003), é aconselhado o consumo de alimentos que fortalecem o Rim e regulam a menstruação, tais como, fígado de porco, inhame chinês (shan yao, Rhizoma dioscoreae) longan, amora, sementes de sésamo preto, bagas goji, óleo de colza e raiz de lótus.
Durante a radioterapia, a dieta deve incluir alimentos que nutrem o Sangue e o Yin, tais como carne de vaca, fígado de porco, raiz de lótus, fungo cérebro-amarelo (Tremella mesenterica), espinafres, aipo, romã e sumo de Trapa natans.
Durante a quimioterapia, a dieta deve incluir alimentos que fortalecem o Baço-Pâncreas e o Rim, tais como pó de inhame chinês, congee de arroz perolado (Semen coicis), fígado de porco ou vitela, fungo cérebro-amarelo, bagas goji, raiz de lótus e banana.
Os pacientes que se encontrem nos últimos estádios devem consumir feijão azuki, feijão-verde, raiz de lótus fresca, espinafres, banana, melão, melancia, maçã, e alimentos proteicos, tais como, leite, ovos e carne de vaca.
Os pacientes não devem comer cebolinho, cebola crua, alimentos frios e gordurosos, tabaco e álcool.
Em resumo, A Medicina Ocidental e a Medicina Tradicional Chinesa realçam o facto de que a alimentação é um factor primordial para a prevenção e o equilibrio do organismo.
Assim sendo, a gordura saturada, sal e álcool foram identificados como fatores promotores de determinados tipos de cancro, assim como a baixa ingestão de frutos e vegetais e inatividade física. A ingestão regular de alimentos ricos em fibra dietética, ácidos gordos essenciais ómega 3 e ómega 6, vitamina D, vitamina A, ácido fólico, cálcio, selénio e zinco em conjunto com outros comportamentos saudáveis como ser ativo, não fumar e limitar o consumo de bebidas alcoólicas diminuem o risco da doença.
Conclusão
A abordagem clínica do cancro do colo do útero exige esforço e dedicação por parte dos profissionais de saúde que se dediquem ao seu estudo, investigação, diagnóstico e/ou tratamento, visto ter ainda uma alta incidência entre as mulheres.
A atuação da Medicina Tradicional Chinesa num cenário de cancro do colo do útero é uma mais-valia no que toca ao combate ao cancro e dos efeitos secundários associados ao seu tratamento com recurso a quimioterapia ou radioterapia, bem como da promoção da saúde e da qualidade de vida do paciente oncológico.
Neste cancro, bem como em todos os outros, a prevenção tem um papel de extrema importância, sendo imprescindível a vacinação das jovens, realização assídua de exames ginecológicos e a adoção de um estilo de vida saudável, o que inclui uma alimentação equilibrada, prática de exercício físico e uma correta gestão das emoções. Neste sentido, a MTC pode ter um papel crucial, visto que dispõe de variadas ferramentas desde a acupuntura e moxabustão, à farmacopeia chinesa, massagem tui na, dietética e qi gong para conduzir o ser humano ao estado de equilíbrio que lhe é inerente.
Imagens:
https://www.aia.com.my/en/what-matters/health-wellness/cervical-cancer.html
https://www.saudecuf.pt/oncologia/o-cancro/cancro-do-colo-do-utero/estadiamento
http://www.hpvonline.com.br/sobre-hpv/hpv-e-cancer/hpv-e-cancer-do-colo-uterino/
http://aia5.adam.com/content.aspx?productId=117&pid=1&gid=000893
Trabalho escrito e traduzido por Ana José, baseado no trabalho de Maria Bentes de Maio de 2017 para a cadeira de Ginecologia do 5º ano da ESMTC. Editado por Jorge Ribeiro.