O caminho de uma velha sexualidade

“Desde a origem dos tempos, quando o caos do mundo foi desfeito e surgiram as forças cósmicas que conduziriam o Universo, já estavam presentes as simbologias da cópula, do ato sexual como raiz das Forças e Seres.”

O tema sexualidade aparece em momentos sócio-históricos precisos como uma tentativa de dominar e compreender as práticas sexuais e sua libertação, de acordo com os padrões da época, pois o controle da via social e política só poderia ser alcançado pelo controle do corpo e da sexualidade, ou seja, a sexualidade é uma construção, uma invenção, inseparável do discurso e do jogo de poder na busca de compreender a Vida, sendo energia sexual a maior força imutável da Vida Humana.

“Todos nós, queiramos ou não, estamos impregnados do imaginário da cultura ocidental que nos fala de uma sexualidade desajustada aos princípios Humanos.”

Ao contrário de outras espécies, a nossa exibe pequenas diferenças anatómicas e funcionais que permitem práticas sexuais a vida inteira e durante todas as estações, independentemente de estar ou não em seu período fértil. Somos assim, em toda a natureza, privilegiados por poder praticar prazerosamente o coito, entre outras formas de sexualidade.



A sexualidade, entendida a partir de um enfoque amplo e abrangente, manifesta-se em todas as fases da vida de um ser humano e, ao contrário do que se pensa, tem na genitália apenas um de seus aspectos, talvez nem mesmo o mais importante.

A energia sexual pode ser vista como a força promotora/geradora de Vida, a energia primária, essencial, diamante em bruto que pela força da vida faz mover todas as manifestações e ações humanas, inspira poetas e agricultores, motiva guerras e amores.
Por ser a base inspiração humana, foi ponto fulcral na organização civilizacional, o que gerou um controlo das massas através da sexualidade/família, pois a sexualidade foi limitada e aceita apenas dentro do casamento, impregnado de culpa e pudor o mais puro e doce dos sentimentos humanos, foi conseguido por muitos séculos manter aprisionado o poder que a sexualidade tem para a espécie humana.

Por força da história sofremos ainda hoje com as marcas deixadas pela repressão sexual, mascarando as verdadeiras razões de se viver através do controlo da moral humana. Somos assim incapazes de perceber a grandeza do “Amor Universal” por culpa ou ignorância social, o que faz com que não aceitasse-mos de coração aberto a mais capaz das nossas motivações, o instinto ou “Sentimento do corpo”, se é assim que pode ser chamado, pois é no corpo que habita a mais real experiência, o caminho para uma vida em plenitude e paz, capacitando nossas vontades em realizações para o espírito.

Alguns acontecimentos registados na nossa história ilustram a importância da sexualidade nas culturas antigas. Em todas as civilizações, e conforme os valores de cada uma, a sexualidade era vivida com seus aspectos positivos e negativos tal como hoje em dia. Neste período a sexualidade e o acto sexual são percebidos com naturalidade pelos indivíduos pertencentes a clã. O acto sexual é entendido, tanto para a mulher quanto para o homem não apenas como satisfação física, mas também para a preservação da espécie. Verifica-se então, a semelhança com os animais, nos quais executam o acto sexual para que haja a satisfação e a procriação, pois na verdade a consciência individualizada é bem recente na nossa atual sociedade, é fruto de todo o caminho já percorrido até então.

“Nas sociedades antigas presava-se em primeiro lugar o bem comum assim como a perpetuação dos valores e costumes transmitidos de geração em geração, sendo estas o foco principal das antigas civilizações.”

Por isso, toda noção que temos em relação à importância cada indivíduo na comunidade assume hoje em dia um papel de destaque, pois é neste novo panorama que surgem novas perguntas a serem resolvidas por todos nós: “sociedade moderna”.

Na Europa, durante a Idade Média, de forma ainda hoje presente, é possível perceber a forte influência da Igreja Católica na regulamentação de condutas amorosas, conjugais e sexuais, valores que se têm vindo a perpetuar até ao presente.
Os objectivos da Igreja visavam o enquadramento da população a novas formas de se conceber o homem daquele tempo, visto o crescimento das populações e sua organização social.
Eram as leis de Deus que falavam mais alto e o homem era entendido como um simples mortal, sujeito às leis do céu e do inferno, criadas por homens em nome de Deus.

“Essa rígida condenação, assim como a estreita vigilância sobre o sexo empreendida pela Igreja marcaram fortemente a vivência da sexualidade humana nesse período histórico.”

A introdução dessa conceção da necessidade de repressão da sexualidade representava para a Igreja um dos meios de pôr fim nos vestígios de uma antiga tradição religiosa que sacralizava a sexualidade e, em especial, o poder sexual da mulher, cultuando uma divindade feminina.

Na medida em que a Igreja pretendeu afirmar-se como a única e exclusiva fé, a persistência destes vestígios não podia ser tolerada. Tornou-se, então, necessário erradicá-los, combinando para isso repressão e cooptação.

Nesse plano da repressão, o sexo foi maculado pelo pecado e permitido apenas como meio para a procriação. Milhares de mulheres ligadas à antigas práticas religiosas foram perseguidas e mortas sob a acusação de feitiçaria. A castidade, o casamento e a fidelidade foram valorizados. O sexo antes ou fora do casamento mantinha-se interdito e a ideia de que a vida profissional e a afetiva se contrapunham estava intensamente presente nas pregações que, nesta conjuntura, começavam a dirigir-se de forma mais direta ao público feminino, pois a mulher era vista como a principal causadora dos desejos infernais ao qual o homem teria de resistir.


Mas afinal o que é a sexualidade?

O termo "sexualidade", separado da marca biológica e reprodutiva da palavra sexo, tem uma utilização bastante recente e revela uma tentativa de entender a amplitude cultural histórica da ação e comportamento do ser humano nesta área. De fato, a sexualidade assim como todas as outras facetas da vida social humana não é algo estático, mas dinâmico, que vai sendo construído e transformado conforme as ações do homem sobre o seu meio, as quais, por sua vez, provocam mudanças no próprio comportamento do homem e na sua sexualidade.
Dessa forma, podemos entender a sexualidade como uma qualidade do sexo essencialmente humana, não restrita ao nível de sexualidade do mundo animal, mas sim com dimensões culturais, históricas, morais e sociais, ou seja, como resultado da evolução cultural da espécie humana em comunidade.

Podemos definir como Sexualidade Contemporânea o período em que se inicia a descristianização das sociedades, caracterizado principalmente pela Revolução Sexual ocorrida em meados do século XX.
Os acontecimentos deste período histórico modificaram quase dois milênios de história, rompendo o ideal ascético que ditou a conduta sexual conforme as regras da lei cristã até esta época, baseadas na culpa sexual, nas confissões e penitências da Igreja como já referimos anteriormente.

‘Revolução Sexual’ foi como se denominou o movimento ocorrido na Europa em defesa da liberação sexual, da prática do sexo natural (sem repressão social) e da sexualidade alternativa, que teve forte expressão no feminismo, nos movimentos das comunidades gays e nas manifestações da juventude parisiense com o lema :
"Faça amor, não faça guerra", isto entre as décadas de 50 e 60.


Sexualidade em si

“A união do homem e da mulher é como a união do céu e da terra. É devido ao correto acasalamento que o céu e a terra persistem na Eternidade. “

Desde o surgimento do Ser Humano na face da Terra, a sexualidade tem uma importância vital na trajetória da humanidade. A partir dos primeiros instintos animais visando à procriação e ao prazer, passando pela ritualística da tradição imperial chinesa ou do Tantra na índia, até as modernas pesquisas e manuais sobre sexualidade, estamos sempre às voltas com uma questão crucial: o Sexo.

O sexo é uma energia poderosíssima que quando reprimida pode ocasionar os mais bizarros desvios de comportamento e que quando utilizada plenamente, o Ser Humano pode alcançar os mais altos níveis de evolução e compreensão, especialmente quando há uma ligação intrínseca entre Sexo, Amor e Transcendência.

“Quantas vezes por trás de tantas guerras, normalmente decididas por homens, está o desejo de afirmação sexual do homem para suas mulheres?”

Normalmente homens e mulheres com insuficiente poder sexual buscam essa afirmação com seus carros ou motos possantes, poder económico ou político, para preencherem essa terrível lacuna existencial: a falta de sua plena afirmação sexual, a falta do contacto profundo com seu Ser, com o divino, com o sagrado.


Matriarcado versus Patriarcado

“Ainda hoje vemos representado por toda a sociedade ocidental o resultado da desvalorização da energia feminina. Com resultado acontece que hoje as mulheres se tornaram mais homens e os homens mais mulheres, o que não tem nada de errado, mas que mostra bem a desorientação sexual vivida nos dias de hoje onde existem muitos estímulos e tudo passa rápido sem tomar qualquer profundidade, e vivemos assim atualmente uma grande incógnita sobre nós mesmos como humanos.”

As relações de género, particularmente no seio da família, vêm marcadas pela guerra surda entre sexos.
Esta marcou os dispositivos psicológicos do relacionamento, minando a singeleza das relações e carregando-as de tensão, disputa e vontade de poder.
Tais conflitos desse género são de tal monta que dificilmente podem ser resolvidos por um casal distante entre si, por exemplo, subjacente aos relacionamentos, trabalha uma pré-história de sofrimento, de dominação e de tensões com milhares de anos de persistência. Só é possível uma convivência harmoniosa do casal mediante uma atitude vigilante de autocrítica, com capacidade de aceitação dos limites de um e de outro, uma ética transparente de benevolência e compaixão e, não em último lugar, a espiritualidade pelo Amor como uma fonte permanentemente inspiradora de sublimações e de novas motivações.
Mediante esta última dimensão, profundamente humana, o ser humano reforça seu lado luminoso e melhor, capaz de integrar e curar seu lado sombrio e menor que o vem enchendo de sofrimento desde tempos antigos.
A integração dos dois polos, a Unidade, trás consigo a compreensão e pacificação dos espíritos mais aventureiros em busca de saber as verdadeiras razões para a Vida no planeta Terra, assim como as verdadeiras leis que regem a moral de todos os relacionamentos Humanos.


Sexualidade para uma vida saudável

Por um lado, sentimos paixão e amor, que acendem o romance e o prazer, despertam as chamas do desejo que tornam a vida digna de ser vivida, mas por outro lado, a sexualidade é também uma fonte de destruição e conflito, a causa de infinitos problemas na sociedade.
“Os taoistas não vêm o sexo ou a energia sexual como uma questão moral, para eles é mais uma questão de saúde.”

Assim que começamos a entender esta energia, como ela é e para que realmente existe, encontramos uma compreensão bem mais saudável de como trabalhar com ela e como interagir com as pessoas ao nosso redor, especialmente com o sexo oposto. A energia sexual é o alimento para a totalidade do nosso ser: o corpo, a mente e o espírito.

Os exercícios para a energia sexual desenvolvidos nos ensinamentos taoistas são muito mais sofisticados e reveladores do que no Ocidente. Esses exercícios taoistas vão diretamente à fonte de nossa sexualidade, cultuando-a de maneira a trazer energia e força sexual para quem os utiliza apropriadamente.

A saúde depende intrinsecamente da energia sexual, é a energia mais potente que existe, pois é uma energia criativa, a energia criativa é a pura energia da vida. A sexualidade manifesta-se o tempo todo no universo, desde a natureza, plantas, flores, animais e nós humanos. Ela flui no universo e em nossos meridianos sempre, é um dom que recebemos e que tem que ser utilizado.

“A natureza dá e a natureza cobra, a pessoa que não sente atração sexual é uma pessoa que tende a adoecer, a perder o interesse pela vida e aos poucos e poucos vai-se perdendo as cores que pintam o dia a dia, isto por causa dos bloqueios energéticos causados pela estagnação desta potente energia.”
Os taoistas sabem como aproveitar a energia mais poderosa da experiência humana, a energia sexual e aplicá-la na busca pela saúde, juventude, longevidade e imortalidade espiritual.

Através da busca e respeito de saber acerca da grandeza que é a sexualidade, os Taoista transformam os problemas resultantes de um caminho de procuras, em satisfações subtis do espírito pela compreensão e à-vontade que têm em lidar com esta questão.

Que nos sirva de exemplo para homens e mulheres estes novos valores que surgem em gritos de manifestações aqui e ali, para a necessidade que existe em pacificar as relações Humanas, não só em relação a sexo mas a tudo o resto que daí advém…

Artigo escrito por Sandro Félix

Bibliografia


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- Matak Chia. TAO HUANG – Porta para todas as maravilhas. Editora CULTRIX




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